domingo, 13 de janeiro de 2013

LYGIA BOJUNGA (1932)

Biografia



Lygia Bojunga Nunes (Pelotas RS 1932). Autora de literatura infantil e juvenil. Passa sua primeira infância em uma fazenda. Aos 8 anos muda-se com a família para o Rio de Janeiro. Em 1951, torna-se atriz da Companhia de Teatro Os Artistas Unidos, viajando pelo interior do Brasil. Atua nesse momento, também, como atriz de rádio. Ao abandonar os palcos e as atividades que exercia, começa a escrever para o rádio e para a televisão. Em busca de uma vida mais integrada à natureza, refugia-se no interior do estado do Rio de Janeiro. Funda, acompanhada de seu segundo marido, o inglês Peter, uma escola rural para crianças carentes, a Toca, que dirige por cinco anos. Faz sua estréia literária em 1972, com o livro Os Colegas e, já em 1973, recebe o prêmio Jabuti. Em 1982, torna-se a primeira autora, fora do eixo Estados Unidos-Europa, a receber o Prêmio Hans Christian Andersen, uma das mais relevantes premiações concedidas aos gêneros infantil e juvenil. Nesse mesmo ano muda-se para Inglaterra, alternando entre esse país e Brasil. Em 1988, volta ao teatro, escrevendo e atuando em palcos no país e no exterior. Trabalha com edição e produção de livros, feitos de forma artesanal. Em 1996, publica Feito à Mão, uma realização alternativa à produção industrial, como indica o título, composta manualmente, com papel reciclado e fotocopiado. Em 2002, publica Retratos de Carolina, o primeiro livro da sua própria editora, a Casa Lygia Bojunga. Pelo conjunto de sua obra, em 2004, ganha o Astrid Lindgren Memorial Award, prêmio criado pelo governo da Suécia, jamais antes outorgado a um autor de literatura infantil e juvenil. Com esse incentivo, cria nesse mesmo ano a Fundação Cultural Lygia Bojunga com o intuito de desenvolver ações que aproximem o livro da população brasileira.

Comentário crítico

A produção literária de Lygia Bojunga caracteriza-se pela transgressão dos limites entre a fantasia e a realidade e aborda questões sociais contemporâneas com lirismo e humor. A autora, segundo a crítica literária Marisa Lajolo, nos momentos mais significativos de sua obra, debruça-se "sobre a perda da identidade infantil" e sobre as possibilidades de construção dessa mesma identidade dentro das perspectivas cotidianas dos centros urbanos contemporâneos. Em seu livro mais conhecido, A Bolsa Amarela, vê-se o processo de amadurecimento da jovem Raquel, que vive em conflito com sua família. Com o objetivo de criar um refúgio para o seu universo intimo, suas fantasias e segredos, transforma uma bolsa amarela numa espécie de extensão do seu mundo interior, de modo a mantê-lo protegido e resguardado. O embate entre suas reinações e a realidade externa se dão, desse modo, na dimensão da bolsa amarela ou em sua imediações - numa zona limítrofe onde não se pode distinguir exterior e interior. O elemento pedagógico, presente na maior parte da literatura produzida para o público infantil e juvenil, aparece em A Bolsa Amarela não como um fator ou acontecimento externo que transforma a personagem, e sim como fruto de um processo reflexivo da própria Raquel, e que se realiza através de sua busca pela preservação de sua própria identidade. A Casa da Madrinha, livro posterior de Lygia Bojunga, dá outra direção a essa mesma problemática - o conflito entre realidade interna e externa - tendo como foco os medos infantis. O protagonista da trama é um menino pobre, morador de uma favela do Rio de Janeiro, que sai de casa em busca da casa da madrinha, lugar inventado por seu irmão em que as dificuldades materiais não existem. De maneira diferente de A Bolsa Amarela, um narrador externo nos fornece o contexto no qual transcorre a história. Nos mostra assim Alexandre, o menino pobre, no momento em que faz uma apresentação, para conseguir alguns trocados e comer com um pavão que encontra pelo caminho. E Vera, uma menina de classe-média, que mora com a família em uma casa no campo. O diálogo entre esses personagens, que mescla situações da história pessoal de Alexandre com suas fantasias, estabelece a tensão narrativa. Vera quer abrigar o menino dentro de sua casa, mas é persuadida pelos pais a deixá-lo temporariamnte na casinha de ferramenta e mandá-lo embora em seguida. É no contato de Alexandre com Vera que se conhece os objetivos do garoto, sua intensão de chegar à casa madrinha. Juntos eles realizam essa busca, inventando um cavalo que toma forma e os permite o encontro. Desse momento em diante a ficção se descola do andamento anterior, em direção à pura fantasia. O atrito com a realidade é no entanto inevitável, mas se encaminha para uma resolução positiva do conflito. Em Corda Bamba, as fantasias também funcionam como o elemento que pode promover a superação de dificuldades pessoais. O simbolismo em relação a esse processo de amadurecimento é construido por meio de uma personagem principal que usa uma corda bamba para entrar em uma casa estranha com muitas portas fechadas, do outro lado da rua. Essa situação é, na prática, uma maneira de elaborar a morte inesperada dos seus pais. Em O Sofá Estampado, Lygia Bojunga faz uma nova incursão nas histórias com animais, como ocorre em seu primeiro livro publicado Os Colegas, que também coloca em cena um grupo de bichos como personagens - uma da tradição da literatura voltada ao público infantil. No entanto, o personagem principal de O Sofá, o tatu Vítor, ganha uma caracterização psicológica que destaca a obra dentro dessa tradição. Segundo o crítico literário José António Gomes,"o leitor percebe que não se encontra apenas perante mais uma história simplista de animais humanizados (...) mas sim a ler um texto que, na sua extraordinária economia de meios, o confronta com um complexo de tópicos em que avultam a identidade e a alteridade, o isolamento e a socialização, a regressão e o crescimento, a morte e o desejo". A perda da identidade infantil, centro de força da obra da autora segundo Marisa Lajolo, se configura no livro por meio da alegoria. Através da história do tatu Vítor observa-se as angústias experimentadas pelo personagem, relacionadas ao processo de amadurecimento. Lygia Bojunga redefine assim os limites entre o real e a fantasia, incorporando ainda questões sociais contemporâneas. Em Seis Vezes Lucas, e também em Tchau, a autora descreve por meio de um ponto de vista infantil os conflitos e rearranjos por que passam as famílias atuais, tendo em vista as transformações do comportamento e da cultura no século XX. Temas polêmicos como suicídio estão presentes em 7 Cartas e 2 Sonhos e O Meu Amigo Pintor. Além da atividade de escritora, Lygia Bojunga criou a Fundação Cultural Casa Lygia Bojunga, projeto que desenvolve ações ligadas à popularização do livro no país. E sua própria editora, a Casa Lygia Bojunga, que possibiliata a autora ter um controle maior de todas as etapas de produção de seus livros, bem como as de distribuição e divulgação. Não obstante, permite o exercício literário experimental subjulgado apenas aos seus anseios como escritora.

Disponível em:  http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_lit/index.cfm?fuseaction=biografias_texto&cd_verbete=5750

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