domingo, 13 de janeiro de 2013

Viver com as fadas


Entrevista com Vitor Quelhas.

É a partir do século XVII, que emerge uma tradição erudita do conto de fadas, tal como o conto de fadas moderno, promovidos por pessoas como Charles Perrault, os Irmãos Grimm, Christian Andersen. Nos contos de tradição oral europeia existe um componente puramente oral, que são fantasiados e contados como histórias fabulosas, de assustar. E outro com as narrativas populares, que aglutinaram imaginários religiosos e simbólicos, e que se constituem como narrativas autônomas, que não precisa estar ligadas ao que acontece, ao que se conta de forma efabulada. Na tradição estritamente popular do conto, o que mais chama atenção é a falta do elemento encantatório. Cada lugar possui uma tradição oral próprios da sua cultura, mas também podem possuir elementos em comum. A China, a Índia, as culturas africanas, por exemplo, têm contos populares espantosos. Na entrevista, foi perguntada a diferença entre os contos de fadas e as fábulas. E Vitor Quellas foi bem claro quando disse que a fábula tem uma “moral da história” o que os contos não têm. Eles propõem uma descoberta ética. A fábula também vem da tradição oral, ela procura ser educativa, tende a levar uma moral, um comportamento social. E o conto de fadas conduz à ordem racional estabelecida. Os contos são tanto pra crianças como pra adultos. Para crianças, porque elas estão muito mais próximas do imaginário, do inconsciente arquetípico. E para os adultos, primeiro porque eles adoram essas narrativas e eles passam a ter uma racionalização do significado das suas relações sociais, da forma como sente, como pensa. A magia dos contos tem a ver com a imaginação e a criatividade, com o maravilhoso, com a capacidade de dizer que as coisas podem ser diferentes e que nem sempre são o que parecem, pois nos contos existe um entendimento de liberdade. Bettelheim, na psicanálise dos contos de fadas, analisa os contos pelo seu lado melhor, diferente da psicanálise tradicional dos contos de fadas fortemente freudiana, altamente redutora, onde tudo é remetido para uma simbólica libidinal, do imaginário da libido. Já Bettelheim analisa os contos à dimensão do sonho, ao inconsciente, ao símbolo. É lendo a análise dos contos de fadas de Bettelheim que aprendemos bastante sobre nós. Um elemento importante no conto é a relação entre emoções positivas e negativas. A criança, quando se conta um conto de fadas, identifica-se com o herói ou heroína, e a criança tem a capacidade de lidar com o feminino e o masculino dentro de si. A criança começa muito cedo a lidar com as fantasias e as emoções ligadas ao desejo. E o desejo dos contos de fadas é de o herói levar um certo percurso até o fim. Tem contos que tem um lado violento, mas não se deve omitir a crueldade, o amor, a morte que estão presentes nos contos. É muito importante que a criança perceba que a realidade muda continuamente. A tradição dos contos de fadas está acabando. Prefere-se colocar a criança em frente à televisão do que contar-lhe uma história. O adulto que tem disponibilidade de contar história a uma criança também tem disponibilidade pra si próprio. Toda a disponibilidade pode ser restabelecida. Habituarmo-nos a momentos do contar em que a criança e o adulto encontrem-se no mesmo nível de disponibilidade seria primordial para cada um de nós. “O conto de fadas remete para soluções e não para problemas sem saída. Às crianças não lhes interessa o problema, mas a solução”.

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